Entrevista com Padre Ton - É necessário acontecer uma reforma política, porque o sistema é bruto
Publicado em : 25/11/2010 às 13:41:22
Piauiense de 41 anos e único deputado federal eleito pelo PT em Rondônia, com 31.186 votos, Padre Ton, um dos mais votados, diz que vai ajudar Tiririca no Congresso Nacional. Aqui ele também fala dos compromissos assumidos e diz que vai sentar com os prefeitos para cuidar dos problemas mais emergenciais dos respectivos municípios.
Rondonotícias: O que o senhor pretende o que o senhor tem em mente, como parlamentar, para beneficiar a população que o elegeu?
PADRE TON: Olha, eu fui prefeito duas vezes, fiz parte do executivo e é a primeira vez que faço parte do legislativo. Tenho um perfil diferente de político, porque sou padre, portanto tenho um perfil cristão, e no PT faço parte de uma corrente chamada “mensagem ao Partido” que surgiu depois do mensalão, depois daquela crise do mensalão, e o PT elegeu 88 deputados federais em nível de Brasil, e eu fui o único de Rondônia, por isto que é uma grande responsabilidade – nós que tínhamos uma senadora e dois deputados agora temos um só.
Rondonotícias: Realmente é uma grande responsabilidade.
PADRE TON: Sim, com certeza. Outro dia ouvi um deputado dizendo que o Congresso Nacional é a casa onde o filho chora e a mãe não ouve, por isto que eu vou precisar do apoio da população de Rondônia, e eu, como padre, por não ter família e nem parentes dentro do Estado – sou piauiense – vou precisar do apoio das comunidades, da população. Mas o que eu pretendo? Em cada cidade que eu visitava as pessoas diziam “eu vou votar nos senhor, mas preciso que o senhor ajude o meu município, ou traga algo para o meu município”.
Rondonotícias: Como isto funcionou, na campanha?
PADRE TON: A compreensão das pessoas com relação ao papel do deputado federal é muito confusa, e por quê? Porque eles confundem o deputado como alguém que executa, entendeu? Eu falava: “eu vou ter cerca de R$12 milhões de emendas, que eu vou poder trazer para os municípios, para Porto Velho, para Alto Alegre, para Rolim de Moura”. Eu até chamo isso de “um mal necessário”, mas em primeiro lugar eu quero ser um parlamentar, Padre Ton, que não envergonhe a população de Rondônia. Meu papel como parlamentar será participar das discussões, das comissões, estudar leis, votar leis e que essas leis não sejam ferramentas que vão contrariar o desejo do nosso povo.
Rondonotícias: Quais serão suas primeiras providências no congresso?
PADRE TON: Logicamente que a princípio eu vou procurar conhecer, mas eu sou ambicioso. Vou participar também das discussões e aparecer, para que as pessoas aqui de Rondônia possam no futuro me avaliar como um bom parlamentar. A casa tem 513 deputados, e tem de tudo - agora tem até o Tiririca, a quem eu vou ter que dar muito conselho; tem o Romário, e eu creio que nessas eleições os partidos saíram mais fragilizados.
Rondonotícias: Por falar em Tiririca, o que o senhor pretende dizer a ele, padre?
PADRE TON: Em acho que o Tiririca precisa ser ajudado. Se para o para o Padre Ton, que é filósofo e teólogo, não vai ser fácil conviver naquela casa, quanto mais para o Tiririca, uma pessoa simples do meio popular.
Rondonotícias: Que ninguém nos ouça, mas o que se pensa sobre política, de um modo geral, é que é o meio mais simples e fácil de se ganhar dinheiro, e ficar rico. E quando um padre, que agora é parlamentar, quando chegarem as tentações, o satanás, como o senhor vai fazer para fazê-lo ir para o lugar dele? O Senhor já foi tentado?
PADRE TON: Sim, sem dúvida. Por isto que precisamos ter uma espiritualidade forte e autêntica. Eu me apego muito a Deus. Eu já fui tentado, mas precisamos ter fé, e nunca nos afastarmos do povo, porque se nos afastarmos ficaremos mais frágeis diante das tentações. Mas aí eu penso assim: quando o Partido dos Trabalhadores me pediu que eu renunciasse ao mandato – eu não tenho bens – em fevereiro eu renunciei a um cargo onde tinha um salário de R$8 mil, e fiquei sem salário todo esse tempo. Eu tinha uma reserva de apenas R$25 mil para ir para uma disputa, uma disputa política absolutamente desigual, dentro de um sistema político perverso – uma disputa desigual, e por quê? – Porque o sistema político brasileiro está podre, e eu entrei numa disputa desigual.
Rondonotícias: E como o senhor se posicionou diante dessa realidade, que parecia não lhe dar qualquer oportunidade de vitória?
PADRE TON: Eu acho que, com a ajuda de Deus, eu fui muito corajoso. Eu conclamo todos os internautas que virem esta entrevista para que entrem no site do TRE e analisem as prestações de contas dos candidatos – por isto que é necessário acontecer uma reforma política, porque o sistema é bruto e desigual.
Rondonotícias: O senhor gastou quanto na sua campanha, padre?
PADRE TON: Eu gastei cerca de R$200 mil reais. E fui, pelo que analisei, o segundo deputado que menos gastou.
Rondonotícias: E esses financiadores, depois não “mandam a conta” para o senhor? Não vão exigir favores do Deputado Padre ton?
PADRE TON: Os 31.128 votos que recebi foram votos conscientes, de pessoas livres, e as pessoas que doaram para a minha campanha são pessoas que querem uma política justa, uma política para todos. Eu, até o momento, não estou sofrendo nenhuma pressão, e acredito que farei um mandato livre e tomarei posições livres.
Rondonotícias: Mas o senhor sabe que as forças na Câmara estão subdivididas em vários segmentos de interesses diversos, as “bancadas evangélicas”, a “bancada da bala”, a dos latifunciários, e isso é ruim. O senhor é de qual bancada, deputado?
PADRE TON: O meu perfil será um perfil de defesa dos direito humanos e direitos sociais, porque eu venho de comunidades eclesiais de base e de movimentos sociais. Minha bancada é a bancada que defender os interesses do povo de Rondônia.
Fonte: Rondonoticias